Metalúrgica NG, em Piracicaba: soldador faleceu após ser atingido nas costas por três peças, no dia 25 de novembro — Foto: Divulgação/ NG Metalúrgica

Movimentação de cargas é a principal causa de acidentes graves de trabalho em Piracicaba (SP). Esse tipo de ocorrência teve um aumento 13,2% na comparação entre janeiro e novembro deste ano e o mesmo período de 2018. E foi o que ocasionou a morte de um funcionário da NG Metalúrgica, no dia 25 de novembro. Os dados são do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Piracicaba (Cerest).

No geral, houve uma redução de 4,4% nos acidentes de trabalho. Por outro lado, o número de morte subiu de seis para nove (50%). O setor com mais registros é o de serviços e de metalurgia, com 120 casos neste ano.

Técnico de Segurança do Trabalho do Cerest, Alessandro José Nunes da Silva elenca quatro principais problemas na movimentação de carga:

  • Interação de atividades de dois serviços no mesmo espaço de trabalho;
  • Realizar a operação sem visualização total do espaço de trabalho;
  • O aumento de produtividade gera em muitos momentos a ausência de espaço para o transporte, armazenagem e manipulação das cargas;
  • A intensificação do trabalho juntamente com a falta de planejamento gera excessiva movimentação de carga.

 

Segundo Silva, o principal objetivo do Cerest é intervir no local de trabalho para evitar acidentes similares. Entre as medidas está gerar ações educativas que possam atingir todos os setores produtivos.

“Em fevereiro estaremos organizando um workshop (juntamente com representantes dos trabalhadores, das empresas e de profissionais de segurança) para aprofundar os conhecimentos referentes aos riscos invisíveis que ocorrem na interação de atividade, discutindo formas de proteção e prevenção para os trabalhadores”, aponta.

Causa de acidentes em Piracicaba em 2018 e 219

Causas dos acidentes 2018 2019
Movimentação de carga 159 180
Veículos de transporte 154 156
Quedas 95 92
Máquinas e equipamentos 74 43
Agentes ambientais 9 6
Corrente elétrica 6
Agressão 2 2
Acidentes por animais 2
Total 501 479

A metalurgia teve uma redução no número de casos de acidentes graves, na comparação entre 2018 e 2019, de 120 para 109, mas continua sendo um dos principais locais deste tipo de casos. Os dois últimos óbitos aconteceram em empresas do ramo.

“O que acontece é o seguinte: agora, para as empresas que trabalham com usina, é um período no qual aumenta a produção. E quando aumenta, esquecem de aumentar o nível da segurança do trabalho”, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba e Região, Wagner da Silva, o Juca.

 

Uma das principais ações na qual o sindicato tem focado para reduzir o número de casos é o acompanhamento das Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipas).

“Ela é que é o elo forte entre empresa, sindicato e trabalhador. E a gente acompanha as eleições e depois a gente participa das reuniões também. O que a gente vem batendo bastante é que os trabalhadores, quando verem condições de insegurança, que podem causar um acidente, que procurem o sindicato, até mesmo de forma anônima, pra gente poder chegar antes de um acidente”, orienta Juca.Setores de ocorrência de acidentes graves de trabalho em Piracicaba

Setor 2018 2019
Comércio 78 69
Construção civil 30 23
Indústria de transformação 73 69
Metalúrgica 120 109
Rural 4 3
Serviços 111 120
Serviços públicos 14 10
Transporte 71 76
Total 501 479

Resistência

 

Ainda conforme o sindicalista, há uma resistência das empresas a investir em segurança e saúde do trabalhador.

“Quando você diz que não pode amontoar três peças, não tem espaço, vai ter que construir, vai ter que gastar, é um negócio muito complexo [para conseguir convencer a empresa a investir]. Segurança e saúde do trabalho é uma questão em que nós batemos muito forte, mas ao mesmo tempo você enfrenta um outro lado que está pensando na produção para entregar os produtos”, acrescenta.

Da mesma forma, também é difícil conseguir tempo dos trabalhadores para realizar palestras e outros tipos de conscientizações do tipo, de acordo com Juca.

Casos

A morte em acidente de trabalho mais recente ocorrida na cidade foi a do soldador Nilson Pereira do Nascimento, de 45 anos. Três peças chamadas virolas caíram sobre as costas do trabalhador durante uma movimentação de cargas, na NG Metalúrgica, localizada na Estrada Lazaro Pedro De Oliveira, no Capim Fino.

Ele chegou a ser resgatado consciente para o Hospital da Unimed, mas não resistiu. Segundo a Unimed, ele sofreu politrauma.

Cerest identificou quatro falhas no local onde trabalhava a vítima e disse que a empresa será cobrada a corrigi-las:

  • A base das virolas é pequena, o que diminui a estabilidade das peças;
  • Os sistemas de armazenagem das virolas são falhos, por causa da proximidade entre peças e do espaço reduzido para organizar todas as peças, consequentemente aumentando o risco de choque entre peças e de efeito dominó;
  • Ocorreu falha por falta de sistema de aprisionamento das peças decorrente da fragilidade da armazenagem (neste caso, seria necessária uma análise de risco da equipe de produção, qualidade e segurança para resolver a situação);
  • Permitir que trabalhadores fiquem em áreas perigosas.

 

“A empresa lamenta profundamente o ocorrido, informa que todas as ações cabíveis foram tomadas, inclusive, no acompanhamento hospitalar com a presença de nossa médica do trabalho, Dra. Renata, e a assistente social Ligia para acompanhamento da família”, informou a metalúrgica, em nota divulgada na à época.

Homem morreu dentro da Dedini, em Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV

Em outro caso, em outubro, um funcionário de 30 anos morreu dentro da empresa Dedini, que fica na Rodovia Fausto Santomauro (SP-127). Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ele foi atingido por uma peça que explodiu, quando trabalhava na metalúrgica.

Em nota divulgada à época, a Dedini confirmou que o funcionário trabalhava em um equipamento e informou que deu assistência aos familiares.